A presença educadora de Dom Bosco

Quarta, 01 Agosto 2012 21:14 Escrito por 
Ao falar dos sistemas de educação em uso na sociedade de seu tempo, diz Dom Bosco: são dois os sistemas usados na educação da juventude; o preventivo e o repressivo. O sistema repressivo consiste em fazer que os súditos conheçam a lei e depois vigiar para saber os seus transgressores e infligir-lhes, quando necessário, o merecido castigo. Diferente, e diria oposto, é o sistema preventivo. Consiste em tornar conhecidas as prescrições e as regras de uma instituição e depois vigiar de modo que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do diretor e dos assistentes. Estes, como pais carinhosos falem, sirvam de guia em todas as circunstâncias, dêem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois, em colocar os jovens na impossibilidade de cometerem faltas.  

 

Razão, religião e bondade

O sistema preventivo apoia-se todo inteiro na razão, na religião e na bondade. Exclui, por isso, todo o castigo violento e procura evitar até as punições leves. Deve ser, pois, amor que atrai os jovens para fazer o bem por meio de contínua vigilância e direção, não a punição sistemática das faltas, que, antes de tudo, atrai sobre o educador o ódio do jovem enquanto ele viver.
Segundo Dom Bosco, tratava-se de ganhar a mente e o coração do jovem e conduzi-lo à convicta prática religiosa (cf. S. JOÃO BOSCO, O sistema preventivo na educação dos jovens).

Dom Bosco e o sistema preventivo

É sabido que Dom Bosco não inventou o sistema preventivo em nenhuma das versões mais conhecidas de seu tempo – pastoral, educativa, correcional, social, demográfica, política. É, porém, indiscutível que, em sua ação assistencial entre os jovens e o povo, ele o tenha plasmado novamente, inovado e enriquecido, relançando-o, enfim, também literariamente. O enriquecimento aconteceu, antes de tudo, em base à vasta gama dos fins a serem conseguidos e dos conteúdos a serem comunicados, graças às mais articuladas forças por ele intuídas na idade em crescimento e, portanto, da variação das atitudes, dos meios e dos modos de relação com ela.
A finalidade era formar “honestos cidadãos e bons cristãos”. Sempre empreendedor, com larga experiência entre os jovens pobres e abandonados, permanecia incuravelmente confiante na própria disponibilidade interior para tudo o que é belo, bom e justo. Mas isso devia ser conseguido com novidade e genialidade de modalidades e de percursos, mesmo no uso dos meios tradicionais, religiosos e profanos.

O encontro com os jovens

Ele modificava também o modo de ser e dos agentes, individualmente e em comunidade, e de sua convivência entre os jovens e na sociedade. Um dos pontos que mais impressionou Dom Bosco quando começou a trabalhar com os cárceres foi o abandono em que viviam os jovens. Como tantos jovens de hoje, as famílias pouco os acompanhavam no como viviam e no que faziam durante o dia.
Nasceu daí um particular estilo de encontro com a idade juvenil, que a certo ponto Dom Bosco pensou poder traduzir em fórmulas e em estruturas conceituais que chamou de “sistema”, mais prático-operativo que teórico. Mais que nas palavras ditas ou escritas ele se tinha forjado e continuava a sê-lo na experiência vivida das instituições por ele desejadas, tanto masculinas como femininas.

A assistência-presença

A educação exigia a assistência-presença do educador na vida do jovem. A metodologia por ele preconizada era fortemente marcada pela descoberta de relações educativas de proximidade, de amizade, de afeto e de compromisso com o bem dos jovens. A inter-relação de ambos era essencial para a construção de um ambiente rico de receptividade e de entusiasmo pelo crescimento de todos e uma fraterna alegria de se viver ali.
A presença, para Dom Bosco, sempre teria de assumir os atributos de dinamicidade, relacionamento individualizante, afetivamente confortadora e acolhedora, pastoralmente entusiasmante para a vida de fé, para o cumprimento dos deveres. Ele estabelecia laços personalizados e, mesmo depois, quando surgiram as outras casas, continuamente estava lutando para ser reconhecido por todos e ele desejava estar ao lado deles, quase individualmente, servindo-se para tanto da correspondência.
Justamente a presença, dentro da concepção pedagógica de Dom Bosco, era muito importante como princípio animador e estimulador da liberdade e do crescimento pessoal para os jovens.
A presença dos jovens em constantes solicitações mostrava-lhe a vida em suas singularidades em cada jovem. Dom Bosco tinha uma sensibilidade peculiar de antever as possibilidades dos jovens quanto ao futuro e quanto ao presente. Antes de tudo ensinava a ver, mediante exortações e encontros pessoais e gerais dos jovens ali presentes. Da mesma forma, pedagogicamente sabia conduzir e exortar a todos para o cumprimento dos deveres e para a luta de um aprimoramento possível pessoal. Soube individualizar as qualidades de cada um para o empenho pessoal maior em seu trabalho ou em sua formação.

A resposta dos jovens

O jovem sentia-se amado e entrava no ciclo: recebia amor forte e desinteressado. Abria-se por sua vez e a ele respondia concretizando, no sistema preventivo de Dom Bosco, síntese do bom senso e da sabedoria, as melhores aquisições da pedagogia moderna:
- as relações afetivas entre o educador, pai, irmão e amigo, e o aluno;
- a personalização do tratamento educativo;
- as atividades do tempo livre;
- o ambiente educativo ativo e alegre;
- o valor de liberdade, da ação, do trabalho e da alegria;
- a educação integral representada pelo trinômio ‘razão, religião, amor’ ou estudo, oração e atividades comuns.
Assim conseguiu Dom Bosco grandes empenhos pessoais dos jovens em direção a uma vida honesta e cristã, na prática da vida responsável perante si e perante a sociedade. Soube se fazer estimado e querido, aceito nas orientações e portador de uma paternidade capaz de estabelecer um ambiente familiar, em que todos se sentiam em casa, assim como entusiasmar todos dali para uma vida abençoada e confiante.

Sistema preventivo e contextos culturais

Naturalmente a pouca sistematicidade deu origem às mais variadas traduções e avaliações segundo as diferentes idades e categorias dos jovens, e às respectivas instituições, espaços geográficos e culturas. Por isso o sistema preventivo foi e continua sendo objeto de muitas leituras práticas e teóricas, que bebem do frescor e da riqueza das origens e o encontram plenamente disponível à mudança dos tempos e dos contextos culturais.

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Última modificação em Quarta, 01 Agosto 2012 21:18

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A presença educadora de Dom Bosco

Quarta, 01 Agosto 2012 21:14 Escrito por 
Ao falar dos sistemas de educação em uso na sociedade de seu tempo, diz Dom Bosco: são dois os sistemas usados na educação da juventude; o preventivo e o repressivo. O sistema repressivo consiste em fazer que os súditos conheçam a lei e depois vigiar para saber os seus transgressores e infligir-lhes, quando necessário, o merecido castigo. Diferente, e diria oposto, é o sistema preventivo. Consiste em tornar conhecidas as prescrições e as regras de uma instituição e depois vigiar de modo que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do diretor e dos assistentes. Estes, como pais carinhosos falem, sirvam de guia em todas as circunstâncias, dêem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois, em colocar os jovens na impossibilidade de cometerem faltas.  

 

Razão, religião e bondade

O sistema preventivo apoia-se todo inteiro na razão, na religião e na bondade. Exclui, por isso, todo o castigo violento e procura evitar até as punições leves. Deve ser, pois, amor que atrai os jovens para fazer o bem por meio de contínua vigilância e direção, não a punição sistemática das faltas, que, antes de tudo, atrai sobre o educador o ódio do jovem enquanto ele viver.
Segundo Dom Bosco, tratava-se de ganhar a mente e o coração do jovem e conduzi-lo à convicta prática religiosa (cf. S. JOÃO BOSCO, O sistema preventivo na educação dos jovens).

Dom Bosco e o sistema preventivo

É sabido que Dom Bosco não inventou o sistema preventivo em nenhuma das versões mais conhecidas de seu tempo – pastoral, educativa, correcional, social, demográfica, política. É, porém, indiscutível que, em sua ação assistencial entre os jovens e o povo, ele o tenha plasmado novamente, inovado e enriquecido, relançando-o, enfim, também literariamente. O enriquecimento aconteceu, antes de tudo, em base à vasta gama dos fins a serem conseguidos e dos conteúdos a serem comunicados, graças às mais articuladas forças por ele intuídas na idade em crescimento e, portanto, da variação das atitudes, dos meios e dos modos de relação com ela.
A finalidade era formar “honestos cidadãos e bons cristãos”. Sempre empreendedor, com larga experiência entre os jovens pobres e abandonados, permanecia incuravelmente confiante na própria disponibilidade interior para tudo o que é belo, bom e justo. Mas isso devia ser conseguido com novidade e genialidade de modalidades e de percursos, mesmo no uso dos meios tradicionais, religiosos e profanos.

O encontro com os jovens

Ele modificava também o modo de ser e dos agentes, individualmente e em comunidade, e de sua convivência entre os jovens e na sociedade. Um dos pontos que mais impressionou Dom Bosco quando começou a trabalhar com os cárceres foi o abandono em que viviam os jovens. Como tantos jovens de hoje, as famílias pouco os acompanhavam no como viviam e no que faziam durante o dia.
Nasceu daí um particular estilo de encontro com a idade juvenil, que a certo ponto Dom Bosco pensou poder traduzir em fórmulas e em estruturas conceituais que chamou de “sistema”, mais prático-operativo que teórico. Mais que nas palavras ditas ou escritas ele se tinha forjado e continuava a sê-lo na experiência vivida das instituições por ele desejadas, tanto masculinas como femininas.

A assistência-presença

A educação exigia a assistência-presença do educador na vida do jovem. A metodologia por ele preconizada era fortemente marcada pela descoberta de relações educativas de proximidade, de amizade, de afeto e de compromisso com o bem dos jovens. A inter-relação de ambos era essencial para a construção de um ambiente rico de receptividade e de entusiasmo pelo crescimento de todos e uma fraterna alegria de se viver ali.
A presença, para Dom Bosco, sempre teria de assumir os atributos de dinamicidade, relacionamento individualizante, afetivamente confortadora e acolhedora, pastoralmente entusiasmante para a vida de fé, para o cumprimento dos deveres. Ele estabelecia laços personalizados e, mesmo depois, quando surgiram as outras casas, continuamente estava lutando para ser reconhecido por todos e ele desejava estar ao lado deles, quase individualmente, servindo-se para tanto da correspondência.
Justamente a presença, dentro da concepção pedagógica de Dom Bosco, era muito importante como princípio animador e estimulador da liberdade e do crescimento pessoal para os jovens.
A presença dos jovens em constantes solicitações mostrava-lhe a vida em suas singularidades em cada jovem. Dom Bosco tinha uma sensibilidade peculiar de antever as possibilidades dos jovens quanto ao futuro e quanto ao presente. Antes de tudo ensinava a ver, mediante exortações e encontros pessoais e gerais dos jovens ali presentes. Da mesma forma, pedagogicamente sabia conduzir e exortar a todos para o cumprimento dos deveres e para a luta de um aprimoramento possível pessoal. Soube individualizar as qualidades de cada um para o empenho pessoal maior em seu trabalho ou em sua formação.

A resposta dos jovens

O jovem sentia-se amado e entrava no ciclo: recebia amor forte e desinteressado. Abria-se por sua vez e a ele respondia concretizando, no sistema preventivo de Dom Bosco, síntese do bom senso e da sabedoria, as melhores aquisições da pedagogia moderna:
- as relações afetivas entre o educador, pai, irmão e amigo, e o aluno;
- a personalização do tratamento educativo;
- as atividades do tempo livre;
- o ambiente educativo ativo e alegre;
- o valor de liberdade, da ação, do trabalho e da alegria;
- a educação integral representada pelo trinômio ‘razão, religião, amor’ ou estudo, oração e atividades comuns.
Assim conseguiu Dom Bosco grandes empenhos pessoais dos jovens em direção a uma vida honesta e cristã, na prática da vida responsável perante si e perante a sociedade. Soube se fazer estimado e querido, aceito nas orientações e portador de uma paternidade capaz de estabelecer um ambiente familiar, em que todos se sentiam em casa, assim como entusiasmar todos dali para uma vida abençoada e confiante.

Sistema preventivo e contextos culturais

Naturalmente a pouca sistematicidade deu origem às mais variadas traduções e avaliações segundo as diferentes idades e categorias dos jovens, e às respectivas instituições, espaços geográficos e culturas. Por isso o sistema preventivo foi e continua sendo objeto de muitas leituras práticas e teóricas, que bebem do frescor e da riqueza das origens e o encontram plenamente disponível à mudança dos tempos e dos contextos culturais.

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