“A minha maior alegria é saber que a semente está dando frutos”

Sexta, 23 Junho 2017 16:17 Escrito por  Pe. Lazaro Santos / Diretor da Missão Salesiana de Maturacá
“A minha vocação para ser missionário entre os povos indígenas veio de minha avó. Tinha sangue indígena. É, pois, algo genético essa minha proximidade a esses povos”. Este é o testemunho do missionário salesiano padre Lázaro Santos, diretor e pároco da Missão Salesiana no rio Maturacá, AM.  

“Nasci em Manaus, capital do estado do Amazonas. Depois nos mudamos para o interior, onde moramos oito anos, sobrevivendo de caça e das frutas que plantávamos. Para participar da Missa tínhamos que caminhar quatro quilômetros. O celebrante era um padre italiano. Quando terminei os estudos primários, a minha família voltou para a cidade. Ali iniciei a catequese: tinha 14 anos. E comecei a ajudar na Liturgia. Ouvi falar dos salesianos nas ‘boas noites’ que meu pai me dava: ele era ex-aluno salesiano do Rio Negro. Entrei para a experiência vocacional salesiana depois do Ensino Médio, como voluntário, numa obra social chamada ‘Pró-Menor Dom Bosco’.

 

Lembro-me muito bem de que quando o inspetor da época disse a mim e a outro jovem ‘Precisamos de jovens para trabalhar entre os indígenas no Rio Negro...’, essa frase me marcou muito. No ano 2006, já salesiano e tirocinante, comecei a trabalhar com os Ianomâmi, em Maturacá. Naquele ano promovi, na minha comunidade, muitas atividades entre os jovens e entre as famílias: oratório, educação, catequese, passeios... Depois dessa rica experiência com os Ianomâmi, fui fazer os estudos de Teologia em Jerusalém, no ‘Ratisbonne’ dos salesianos. Em 2013, fui enviado aos povos indígenas do rio Marauiá. Aceitei com alegria esse envio.

 

Agora estou trabalhando, há já quatro anos, com os Ianomâmi. Dirijo uma escola e, nos últimos dois anos, vim trabalhando com os professores na pastoral, visando a catequese desses povos. Penso que os ‘lemas’ de ordenação e de profissão religiosa tenham tudo a ver com esse chamado missionário de trabalhar com os povos indígenas. Na profissão religiosa: ‘Eis-me aqui: envia-me!’ (Is 6,8); na ordenação diaconal: ‘Seja feita a tua vontade!’ (Mt 6,10); e na ordenação sacerdotal: ‘Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas!’ (Jo 10,11).

 

Menciono alguns desafios na missão: escassez de missionários salesianos nestas áreas; algumas organizações presentes na região que dificultam o trabalho dos salesianos: querem colocar os indígenas contra nós; falta de meios materiais para desenvolver a missão entre os Ianomâmi e demais etnias da região; as enormes distâncias entre as comunidades indígenas.

 

Olhando para esses anos passados na Inspetoria Missionária Salesiana da Amazônia, a minha maior alegria é saber que – graças ao trabalho de tantos salesianos, que deram suas vidas por estas missões indígenas – a semente está dando frutos. A semente do Verbo Encarnado já está presente no coração destes povos: os missionários apenas a fazem brotar. Hoje somos parte desta história. E também nos cabe continuar a semear: colheremos certamente, nesta região do Rio Negro, muito fruto; muitos ‘bons cristãos e honestos cidadãos’.

 

Por ocasião do Dia Missionário Salesiano 2017, deixo aos jovens a mensagem de nunca terem medo de dizer ‘sim’ ao trabalho pelos/com os povos indígenas: eles precisam da sua presença para partilhar o conhecimento de culturas diferentes; vir desarmados de preconceitos e conhecer a riqueza dos povos indígenas; todos podemos viver em harmonia, se respeitarmos a cultura do outro e soubermos partilhar, com humildade de coração, os nossos conhecimentos: não ter medo de fazer uma nova experiência de partilha cultural e vivenciá-la com o Senhor, no espírito salesiano de Dom Bosco.

 

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Última modificação em Quarta, 28 Junho 2017 11:42

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Sexta, 23 Junho 2017 16:17 Escrito por  Pe. Lazaro Santos / Diretor da Missão Salesiana de Maturacá
“A minha vocação para ser missionário entre os povos indígenas veio de minha avó. Tinha sangue indígena. É, pois, algo genético essa minha proximidade a esses povos”. Este é o testemunho do missionário salesiano padre Lázaro Santos, diretor e pároco da Missão Salesiana no rio Maturacá, AM.  

“Nasci em Manaus, capital do estado do Amazonas. Depois nos mudamos para o interior, onde moramos oito anos, sobrevivendo de caça e das frutas que plantávamos. Para participar da Missa tínhamos que caminhar quatro quilômetros. O celebrante era um padre italiano. Quando terminei os estudos primários, a minha família voltou para a cidade. Ali iniciei a catequese: tinha 14 anos. E comecei a ajudar na Liturgia. Ouvi falar dos salesianos nas ‘boas noites’ que meu pai me dava: ele era ex-aluno salesiano do Rio Negro. Entrei para a experiência vocacional salesiana depois do Ensino Médio, como voluntário, numa obra social chamada ‘Pró-Menor Dom Bosco’.

 

Lembro-me muito bem de que quando o inspetor da época disse a mim e a outro jovem ‘Precisamos de jovens para trabalhar entre os indígenas no Rio Negro...’, essa frase me marcou muito. No ano 2006, já salesiano e tirocinante, comecei a trabalhar com os Ianomâmi, em Maturacá. Naquele ano promovi, na minha comunidade, muitas atividades entre os jovens e entre as famílias: oratório, educação, catequese, passeios... Depois dessa rica experiência com os Ianomâmi, fui fazer os estudos de Teologia em Jerusalém, no ‘Ratisbonne’ dos salesianos. Em 2013, fui enviado aos povos indígenas do rio Marauiá. Aceitei com alegria esse envio.

 

Agora estou trabalhando, há já quatro anos, com os Ianomâmi. Dirijo uma escola e, nos últimos dois anos, vim trabalhando com os professores na pastoral, visando a catequese desses povos. Penso que os ‘lemas’ de ordenação e de profissão religiosa tenham tudo a ver com esse chamado missionário de trabalhar com os povos indígenas. Na profissão religiosa: ‘Eis-me aqui: envia-me!’ (Is 6,8); na ordenação diaconal: ‘Seja feita a tua vontade!’ (Mt 6,10); e na ordenação sacerdotal: ‘Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas!’ (Jo 10,11).

 

Menciono alguns desafios na missão: escassez de missionários salesianos nestas áreas; algumas organizações presentes na região que dificultam o trabalho dos salesianos: querem colocar os indígenas contra nós; falta de meios materiais para desenvolver a missão entre os Ianomâmi e demais etnias da região; as enormes distâncias entre as comunidades indígenas.

 

Olhando para esses anos passados na Inspetoria Missionária Salesiana da Amazônia, a minha maior alegria é saber que – graças ao trabalho de tantos salesianos, que deram suas vidas por estas missões indígenas – a semente está dando frutos. A semente do Verbo Encarnado já está presente no coração destes povos: os missionários apenas a fazem brotar. Hoje somos parte desta história. E também nos cabe continuar a semear: colheremos certamente, nesta região do Rio Negro, muito fruto; muitos ‘bons cristãos e honestos cidadãos’.

 

Por ocasião do Dia Missionário Salesiano 2017, deixo aos jovens a mensagem de nunca terem medo de dizer ‘sim’ ao trabalho pelos/com os povos indígenas: eles precisam da sua presença para partilhar o conhecimento de culturas diferentes; vir desarmados de preconceitos e conhecer a riqueza dos povos indígenas; todos podemos viver em harmonia, se respeitarmos a cultura do outro e soubermos partilhar, com humildade de coração, os nossos conhecimentos: não ter medo de fazer uma nova experiência de partilha cultural e vivenciá-la com o Senhor, no espírito salesiano de Dom Bosco.

 

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