Serra Leoa: “No medo, Deus ajudou-nos a responder com generosidade”

Quarta, 01 Março 2017 13:38 Escrito por 
Ubaldino Andrade Hernández é um salesiano missionário que trabalha em Serra Leoa, na África. Durante a exposição fotográfica “Ebola, mais além do ebola”, realizada na Itália, ele esteve na Casa Geral dos Salesianos em Roma. Seu testemunho é uma demonstração de confiança total em Deus. Durante o surto de ebola no país africano, muitos estrangeiros foram embora com um “medo real da morte”. “Nós decidimos ficar como pais para muitas crianças sem lar”. Vendo as fotos da exposição, as recordações vêm à memória, seus olhos ficam nublados relembrando os momentos vividos. “Ficarmos foi a melhor opção”, afirma. Leia a seguir a entrevista concedida à Agência Salesiana de Notícias (ANS).

Por que decidiram ficar em um lugar onde a morte poderia ser o destino também para vocês?

Decidimos ficar com o povo e assumir o risco de morrer como muitos, mas estávamos certos de que Deus nos ajudaria e nunca nos sentimos sozinhos. Decidimos ficar e estar com os jovens.

 

O que recorda ao ver as fotos?

Recordo os rostos das pessoas. Recordo os hospitais cheios de gente. Recordo a quantidade dos mortos. Recordo o medo que se podia tocar com as mãos. Recordo muitas famílias em quarentena, deixadas sem água, sem comida.

 

O que lhe vem à memória ao ver os rostos das crianças?

São os rostos de muitas crianças que acolhemos nas casas salesianas. Na tradição africana, a criança deve ficar longe de quem está doente. Isso ajudou para que muitas crianças sobrevivessem, mas, depois, ficavam sozinhos em suas casas. Recordo-me de Ibrahim: todos na casa morreram; ele foi o único sobrevivente. Quando chegaram à sua casa para desinfetar, molharam todo o seu corpo com cloro e ele ficou cego de um olho.

 

Você sentiu entre o povo que a doença faria parte de algum castigo?

Em toda a experiência do ebola, nunca encontrei uma pessoa queixando-se de que Deus nos estava castigando. Havia uma ideia muito clara: Deus está conosco.

 

E como decidiram ficar em uma situação tão dramática e difícil?

Para nós, Salesianos, não foi fácil. Nós nos sentimos muito desorientados. E nos perguntávamos: O que devemos fazer? Vamos embora? Deixamos tudo? Sentimos que Deus nos ajudou a descobrir a Sua vontade. Pensamos que o melhor lugar onde devíamos estar era em Serra Leoa.

 

Ficaram com medo da decisão a tomar?

Ficamos com muito medo, como todo o povo. Foi então que o governo propôs ajudar-nos com as crianças órfãs. No medo, Deus nos deu as ferramentas para responder com generosidade. Não nos sentimos sozinhos, mas acompanhados por Deus, pelo Reitor-mor, pela Congregação. Ficamos com o povo, apesar de todo o perigo.

Fonte: Info ANS

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Última modificação em Quarta, 01 Março 2017 22:53

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Serra Leoa: “No medo, Deus ajudou-nos a responder com generosidade”

Quarta, 01 Março 2017 13:38 Escrito por 
Ubaldino Andrade Hernández é um salesiano missionário que trabalha em Serra Leoa, na África. Durante a exposição fotográfica “Ebola, mais além do ebola”, realizada na Itália, ele esteve na Casa Geral dos Salesianos em Roma. Seu testemunho é uma demonstração de confiança total em Deus. Durante o surto de ebola no país africano, muitos estrangeiros foram embora com um “medo real da morte”. “Nós decidimos ficar como pais para muitas crianças sem lar”. Vendo as fotos da exposição, as recordações vêm à memória, seus olhos ficam nublados relembrando os momentos vividos. “Ficarmos foi a melhor opção”, afirma. Leia a seguir a entrevista concedida à Agência Salesiana de Notícias (ANS).

Por que decidiram ficar em um lugar onde a morte poderia ser o destino também para vocês?

Decidimos ficar com o povo e assumir o risco de morrer como muitos, mas estávamos certos de que Deus nos ajudaria e nunca nos sentimos sozinhos. Decidimos ficar e estar com os jovens.

 

O que recorda ao ver as fotos?

Recordo os rostos das pessoas. Recordo os hospitais cheios de gente. Recordo a quantidade dos mortos. Recordo o medo que se podia tocar com as mãos. Recordo muitas famílias em quarentena, deixadas sem água, sem comida.

 

O que lhe vem à memória ao ver os rostos das crianças?

São os rostos de muitas crianças que acolhemos nas casas salesianas. Na tradição africana, a criança deve ficar longe de quem está doente. Isso ajudou para que muitas crianças sobrevivessem, mas, depois, ficavam sozinhos em suas casas. Recordo-me de Ibrahim: todos na casa morreram; ele foi o único sobrevivente. Quando chegaram à sua casa para desinfetar, molharam todo o seu corpo com cloro e ele ficou cego de um olho.

 

Você sentiu entre o povo que a doença faria parte de algum castigo?

Em toda a experiência do ebola, nunca encontrei uma pessoa queixando-se de que Deus nos estava castigando. Havia uma ideia muito clara: Deus está conosco.

 

E como decidiram ficar em uma situação tão dramática e difícil?

Para nós, Salesianos, não foi fácil. Nós nos sentimos muito desorientados. E nos perguntávamos: O que devemos fazer? Vamos embora? Deixamos tudo? Sentimos que Deus nos ajudou a descobrir a Sua vontade. Pensamos que o melhor lugar onde devíamos estar era em Serra Leoa.

 

Ficaram com medo da decisão a tomar?

Ficamos com muito medo, como todo o povo. Foi então que o governo propôs ajudar-nos com as crianças órfãs. No medo, Deus nos deu as ferramentas para responder com generosidade. Não nos sentimos sozinhos, mas acompanhados por Deus, pelo Reitor-mor, pela Congregação. Ficamos com o povo, apesar de todo o perigo.

Fonte: Info ANS

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