Angola: a ação salesiana com a fé e o sorriso negro

Segunda, 08 Dezembro 2014 18:15 Escrito por 
Desde 1981, Angola recebe missionários salesianos brasileiros. São religiosos e religiosas, leigos cooperadores e jovens que estreitam os laços entre os dois países, irmãos na língua portuguesa, na alegria e na esperança.

Em 1981, um ano após o lançamento do Projeto África pelo padre Egídio Viganò, 7º sucessor de Dom Bosco, chega a Angola o primeiro missionário salesiano, padre Alvino Beber, catarinense que à época pertencia à Inspetoria Salesiana São Pio X, de Porto Alegre, seguido de outros cinco salesianos.

Os desafios enfrentados por padre Alvino eram grandes. Angola estava em guerra desde a década de 1960, primeiro com a luta pela sua independência de Portugal, alcançada em 1975, e depois com uma guerra civil que perdurou até 2002. Seus principais trabalhos foram concentrados nos cuidados com os refugiados dos conflitos na casa fundada em Dondo. As ações se expandiram para Luanda e Luena, inicialmente em paróquias e, em 1983, juntaram-se à missão as Filhas de Maria Auxiliadora.

De lá para cá as mudanças sociais no país têm sido lentas e dolorosas ao seu povo, que apesar disso, a exemplo de toda a África, é lembrado pela sua alegria. Apesar de ser um país rico em reservas minerais e petrolíferas, cerca de 70% da população vive com menos de dois dólares por dia, tendo suas taxas de expectativa de vida e mortalidade infantil entre as piores do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas.

 

Educação e evangelização

Desde o início do trabalho salesiano em Angola, a Inspetoria Salesiana de Nossa Senhora Auxiliadora, de São Paulo, coordenou os processos, enviando padres e leigos missionários para o país. Angola fez parte da Inspetoria de São Paulo até dezembro de 1999, quando foi fundada a Visitadoria Mama Muxima.

Padre Hilário Micheluzzi, 86 anos, um dos salesianos pioneiros em Angola, residente em Luena até 1991, diz que o povo angolano sempre teve uma fé grandiosa. “Eles viam Dom Bosco como Pai, não só viam como rezavam para ele e para todos os santos de Deus. O povo via a religião como alento, muitos queriam ser católicos, mas muitos não haviam se convertido. A primeira turma de batizados recebeu o Batismo na Páscoa de 1981. Foram 283 pessoas, todo mundo queria ficar dentro da igreja e não tinha espaço”, conta com um sorriso.

Um dos projetos que se destacam na Inspetoria Mama Muxima é a casa KalaKala, localizada a 70 quilômetros da capital, Luanda. Focada nos pilares educação e profissionalização, atende centenas de crianças e jovens nos regimes de externato e internato, nas faixas de 6 a 18 anos.

O regime de internato é o que acolhe crianças e jovens em maior vulnerabilidade social. São, em sua maioria, menores abandonados que viviam nas ruas praticando pequenos crimes para sobreviver e consumindo drogas, principalmente a maconha e a inalação de gasolina. Os salesianos não forçam o ingresso na casa. Eles se fazem presentes na realidade dessas crianças e jovens, se aproximam, iniciam um trabalho de educação e de ganho da confiança deles ainda na rua, mas o ingresso em KalaKala tem que partir dos jovens. Uma vez inseridos na comunidade, os internos têm acesso à convivência em família, alfabetização e profissionalização, visando ao objetivo de Dom Bosco de tornar os jovens “bons cristãos e honestos cidadãos”.

 

Fé e solidariedade

O casal Ana Maria e Márcio retornou em 2012 de Angola após um ano de missão. Ela pedagoga, e ele, turismólogo especializado em gestão de pessoas, foram ao país africano após a experiência com o Grupo de Ação Missionária (GAM) de Guaratinguetá, no Interior paulista. Eles contam que a experiência foi excepcional. “Ficamos em uma fazenda em que funcionava o Centro de Formação para jovens chamado KalaKala. Morávamos e trabalhávamos no Centro, mas mantínhamos nossas obrigações pastorais com os oratórios nos finais de semana nas aldeias ao redor da nossa fazenda”.

O casal ressalta a fé e a solidariedade dos angolanos. “O que nos deixa mais tocados é a fé de um povo que havia sofrido por tanto tempo e que não desanimava na caminhada do projeto de Deus. Sempre doando o que tinham para os irmãos que passavam necessidades, mesmo sabendo que podiam não ter para o outro dia. A partilha é algo divino e contagiante nas comunidades onde passamos”, concluem.

Atualmente, os Salesianos de Dom Bosco (SDB) mantêm 13 casas no país, atuando nas áreas de evangelização, educação, formação salesiana, saúde e comunicação. As Filhas de Maria Auxiliadora, por meio da Visitadoria Rainha da Paz, também atuam na educação e evangelização da juventude, trabalhando em conjunto com os SDB e nas paróquias das dioceses angolanas e da arquidiocese de Luanda. Outros grupos da Família Salesiana presentes em Angola são a Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), as Voluntárias de Dom Bosco (VDB) e a Associação dos Salesianos Cooperadores (SSCC).

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Última modificação em Segunda, 08 Dezembro 2014 19:26

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Angola: a ação salesiana com a fé e o sorriso negro

Segunda, 08 Dezembro 2014 18:15 Escrito por 
Desde 1981, Angola recebe missionários salesianos brasileiros. São religiosos e religiosas, leigos cooperadores e jovens que estreitam os laços entre os dois países, irmãos na língua portuguesa, na alegria e na esperança.

Em 1981, um ano após o lançamento do Projeto África pelo padre Egídio Viganò, 7º sucessor de Dom Bosco, chega a Angola o primeiro missionário salesiano, padre Alvino Beber, catarinense que à época pertencia à Inspetoria Salesiana São Pio X, de Porto Alegre, seguido de outros cinco salesianos.

Os desafios enfrentados por padre Alvino eram grandes. Angola estava em guerra desde a década de 1960, primeiro com a luta pela sua independência de Portugal, alcançada em 1975, e depois com uma guerra civil que perdurou até 2002. Seus principais trabalhos foram concentrados nos cuidados com os refugiados dos conflitos na casa fundada em Dondo. As ações se expandiram para Luanda e Luena, inicialmente em paróquias e, em 1983, juntaram-se à missão as Filhas de Maria Auxiliadora.

De lá para cá as mudanças sociais no país têm sido lentas e dolorosas ao seu povo, que apesar disso, a exemplo de toda a África, é lembrado pela sua alegria. Apesar de ser um país rico em reservas minerais e petrolíferas, cerca de 70% da população vive com menos de dois dólares por dia, tendo suas taxas de expectativa de vida e mortalidade infantil entre as piores do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas.

 

Educação e evangelização

Desde o início do trabalho salesiano em Angola, a Inspetoria Salesiana de Nossa Senhora Auxiliadora, de São Paulo, coordenou os processos, enviando padres e leigos missionários para o país. Angola fez parte da Inspetoria de São Paulo até dezembro de 1999, quando foi fundada a Visitadoria Mama Muxima.

Padre Hilário Micheluzzi, 86 anos, um dos salesianos pioneiros em Angola, residente em Luena até 1991, diz que o povo angolano sempre teve uma fé grandiosa. “Eles viam Dom Bosco como Pai, não só viam como rezavam para ele e para todos os santos de Deus. O povo via a religião como alento, muitos queriam ser católicos, mas muitos não haviam se convertido. A primeira turma de batizados recebeu o Batismo na Páscoa de 1981. Foram 283 pessoas, todo mundo queria ficar dentro da igreja e não tinha espaço”, conta com um sorriso.

Um dos projetos que se destacam na Inspetoria Mama Muxima é a casa KalaKala, localizada a 70 quilômetros da capital, Luanda. Focada nos pilares educação e profissionalização, atende centenas de crianças e jovens nos regimes de externato e internato, nas faixas de 6 a 18 anos.

O regime de internato é o que acolhe crianças e jovens em maior vulnerabilidade social. São, em sua maioria, menores abandonados que viviam nas ruas praticando pequenos crimes para sobreviver e consumindo drogas, principalmente a maconha e a inalação de gasolina. Os salesianos não forçam o ingresso na casa. Eles se fazem presentes na realidade dessas crianças e jovens, se aproximam, iniciam um trabalho de educação e de ganho da confiança deles ainda na rua, mas o ingresso em KalaKala tem que partir dos jovens. Uma vez inseridos na comunidade, os internos têm acesso à convivência em família, alfabetização e profissionalização, visando ao objetivo de Dom Bosco de tornar os jovens “bons cristãos e honestos cidadãos”.

 

Fé e solidariedade

O casal Ana Maria e Márcio retornou em 2012 de Angola após um ano de missão. Ela pedagoga, e ele, turismólogo especializado em gestão de pessoas, foram ao país africano após a experiência com o Grupo de Ação Missionária (GAM) de Guaratinguetá, no Interior paulista. Eles contam que a experiência foi excepcional. “Ficamos em uma fazenda em que funcionava o Centro de Formação para jovens chamado KalaKala. Morávamos e trabalhávamos no Centro, mas mantínhamos nossas obrigações pastorais com os oratórios nos finais de semana nas aldeias ao redor da nossa fazenda”.

O casal ressalta a fé e a solidariedade dos angolanos. “O que nos deixa mais tocados é a fé de um povo que havia sofrido por tanto tempo e que não desanimava na caminhada do projeto de Deus. Sempre doando o que tinham para os irmãos que passavam necessidades, mesmo sabendo que podiam não ter para o outro dia. A partilha é algo divino e contagiante nas comunidades onde passamos”, concluem.

Atualmente, os Salesianos de Dom Bosco (SDB) mantêm 13 casas no país, atuando nas áreas de evangelização, educação, formação salesiana, saúde e comunicação. As Filhas de Maria Auxiliadora, por meio da Visitadoria Rainha da Paz, também atuam na educação e evangelização da juventude, trabalhando em conjunto com os SDB e nas paróquias das dioceses angolanas e da arquidiocese de Luanda. Outros grupos da Família Salesiana presentes em Angola são a Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), as Voluntárias de Dom Bosco (VDB) e a Associação dos Salesianos Cooperadores (SSCC).

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