Estote Parati: estejam prontos!

Quinta, 24 Outubro 2013 14:43 Escrito por  Matteo Pucci
Bate-papo com padre Giuseppe “Beppino” Larcher, missionário salesiano na Etiópia, mostra um pouco da experiência missionária salesiana nos países em conflito e em regiões de difícil atuação.   Adotou o lema do Escotismo? Ah, sim, “Estote parati” sempre foi o lema do escotismo mundial, não somente o católico. Significa “estejam prontos” e nos anos do meu sacerdócio foram muitos os chamados recebidos, aos quais procurei sempre responder “estou pronto”. Havíamos apenas começado uma nova obra salesiana em Soddo, na Etiópia, onde me encontro desde o verão de 2011, mas o primeiro chamado foi no ano de 2000 em Gambella e ainda antes, em 1993, no Centro Salesiano Santa Maria de Adwa, sempre na Etiópia.

A sua missão era um triângulo entre o Oriente Médio, Itália e Etiópia, onde ainda está trabalhando, em Soddo.

Aos 19 anos, apenas havia me tornado salesiano, eu pedi para ir em missão em meio aos leprosos. Ao invés disso, parti para o Líbano onde permaneci por três anos e depois próximo a Betlemme, por outros quatro anos, até 1969. Depois teve início a experiência no Irã, no Colégio Dom Bosco, mas a revolução de Khomeini, em 1979, nos forçou a voltar para a Itália, onde continuei minha obra por 14 anos, entre Savona e La Spezia. Finalmente, um novo chamado, em 1993, para a missão emocionante na África, na Etiópia.

A experiência como escoteiro ajudou no seu modo de ser salesiano e missionário?

Eu me sinto escoteiro da mesma maneira que sou salesiano. Escotismo é viver com autenticidade a mensagem evangélica e a missão. Por meio do escotismo, especialmente em meus anos iranianos, eu pude me aproximar de muitos jovens não crentes e encaminhá-los para conhecer o Evangelho pelo caminho das atividades, dos acampamentos, da essência, da natureza. Em 1977 participei com eles, na Noruega, do Jamboree, onde nos encontramos com escoteiros de todo o mundo e vivemos concretamente experiências de fraternidade e de universalidade. Para o regime de Khomeini, que assumiu em 1979, no entanto, éramos "corruptores de menores" e, portanto, para nós, não havia mais espaço. Mas naqueles jovens nasceram as vocações, vocações salesianas.

E então começou o longo parêntese italiano, antes da Etiópia.

Os anos passados em Savona e La Spezia foram para todos os efeitos anos de missão, embora em solo italiano. Estou convencido de que o nosso ser Cristão significa fazer a experiência de salvação, aqui e agora, no lugar onde o Senhor nos quis.

O seu entusiamo e o seu testemunho, também naqueles anos, não passaram despercebidos aos olhos de muitos jovens que o encontraram na estrada e com os quais, então, mantém uma linha direta.

"Da robur fer auxilium" (dá-nos força, traga ajuda) é algo que devemos nos esforçar em viver sempre, em todo lugar. Eu sempre tive o dom de encontrar tantas pessoas à margem da sociedade, mesmo na Itália, prisioneiros, dependentes de drogas, os últimos, os marginalizados. Os necessitados não se encontram somente no Oriente Médio ou na Etiópia, há muitos nas estações de trem e pelas ruas da cidade. Os jovens veem essas coisas e nós temos o dever de tentar ser como as sementes lançadas na terra e não reduzir a nossa passagem a simples flocos de lã penduradas nas silvas.

Voltemos à sua última e atual missão, aquela em terras etíopes.

É o país mais pobre do mundo, e os salesianos estão presentes ali há quase duas décadas. No começo, eu admito que foi difícil. Em Adwa, no ano de 1993, faltava tudo, não havia luz e nem mesmo água para banhar-se, a temperatura era alta, havia apenas uma cerca, pedras e milhares de crianças e jovens na mais profunda pobreza. Então, com a ajuda que nos chegava da Itália, começamos a construir poços para tirar água do solo árido; a vila Dom Bosco nasceu depois de termos aplainado uma colina com a força dos braços e picaretas; construímos a sede, o Centro Juvenil, a escola técnica, os laboratórios, os escritórios e a biblioteca.

Em Gambella, no sudoeste da Etiópia, fronteira com o Sudão, no ano de 2000, quando chegamos, tínhamos diante de nós a savana e a selva. O clima tórrido, a malária e constantes confrontos entre os diferentes grupos étnicos provocavam mortes praticamente todos os dias. Depois de 10 anos, temos uma bela igreja, o oratório, o centro juvenil, uma escola profissional de construção, de carpintaria e mecânica, pois não devemos apenas dar o pão de cada dia, mas preparar os jovens para obtê-lo.

O que significa a África para a Igreja?

A África é o Oratório, é a juventude, é a vida! Como nos dizia o Papa Bento XVI em sua encíclica, a África é "Presente" e dará vida aos outros continentes. O Papa considera este continente o "sal" da Terra e a "luz" do mundo. É assim que dizemos a toda juventude do continente africano "Estote parati", estejam prontos!

Porque esse desejo?

Não devemos esquecer que aquele que carregou a cruz de Jesus é Simão de Cirene (Líbia), um africano. É emblemático o fato de que o "poder", os soldados romanos, tenham obrigado um africano a carregar a cruz... A África, o maior dos continentes, colonizado... explorado... esquecido. Os africanos vendidos como escravos e transportados para outros continentes (as músicas spirituals nos lembram desta epopéia). Sim, é com o coração que dizemos Estote parati e boa caminhada para a África: é o continente mais jovem, por média de idade, é o futuro da humanidade!

Quais projetos está levando adiante nesse período na missão?

Os projetos destinados às famílias e crianças, para a multidão de crianças que migram aos nossos oratórios. Precisamos de ajuda para as necesidades, que podem parecer mais simples para nós que temos tudo, como conseguir dar a todos os jovens que vêm aos domingos algum biscoito, e para projetos maiores e de grande alcance, como assegurar um futuro por meio  das nossas escolas, onde se aprendem ofícios e profissões. Para isso, precisamos de uma ajuda constante, ainda que pequena, mas constante, e agradeço a todas as pessoas que há anos não interromperam seu apoio à Missão.

Artigo originalmente publicado em Bollettino Salesiano – Itália, em junho de 2013. Tradução: Elaine Tozetto

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Última modificação em Quinta, 28 Agosto 2014 17:47

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Estote Parati: estejam prontos!

Quinta, 24 Outubro 2013 14:43 Escrito por  Matteo Pucci
Bate-papo com padre Giuseppe “Beppino” Larcher, missionário salesiano na Etiópia, mostra um pouco da experiência missionária salesiana nos países em conflito e em regiões de difícil atuação.   Adotou o lema do Escotismo? Ah, sim, “Estote parati” sempre foi o lema do escotismo mundial, não somente o católico. Significa “estejam prontos” e nos anos do meu sacerdócio foram muitos os chamados recebidos, aos quais procurei sempre responder “estou pronto”. Havíamos apenas começado uma nova obra salesiana em Soddo, na Etiópia, onde me encontro desde o verão de 2011, mas o primeiro chamado foi no ano de 2000 em Gambella e ainda antes, em 1993, no Centro Salesiano Santa Maria de Adwa, sempre na Etiópia.

A sua missão era um triângulo entre o Oriente Médio, Itália e Etiópia, onde ainda está trabalhando, em Soddo.

Aos 19 anos, apenas havia me tornado salesiano, eu pedi para ir em missão em meio aos leprosos. Ao invés disso, parti para o Líbano onde permaneci por três anos e depois próximo a Betlemme, por outros quatro anos, até 1969. Depois teve início a experiência no Irã, no Colégio Dom Bosco, mas a revolução de Khomeini, em 1979, nos forçou a voltar para a Itália, onde continuei minha obra por 14 anos, entre Savona e La Spezia. Finalmente, um novo chamado, em 1993, para a missão emocionante na África, na Etiópia.

A experiência como escoteiro ajudou no seu modo de ser salesiano e missionário?

Eu me sinto escoteiro da mesma maneira que sou salesiano. Escotismo é viver com autenticidade a mensagem evangélica e a missão. Por meio do escotismo, especialmente em meus anos iranianos, eu pude me aproximar de muitos jovens não crentes e encaminhá-los para conhecer o Evangelho pelo caminho das atividades, dos acampamentos, da essência, da natureza. Em 1977 participei com eles, na Noruega, do Jamboree, onde nos encontramos com escoteiros de todo o mundo e vivemos concretamente experiências de fraternidade e de universalidade. Para o regime de Khomeini, que assumiu em 1979, no entanto, éramos "corruptores de menores" e, portanto, para nós, não havia mais espaço. Mas naqueles jovens nasceram as vocações, vocações salesianas.

E então começou o longo parêntese italiano, antes da Etiópia.

Os anos passados em Savona e La Spezia foram para todos os efeitos anos de missão, embora em solo italiano. Estou convencido de que o nosso ser Cristão significa fazer a experiência de salvação, aqui e agora, no lugar onde o Senhor nos quis.

O seu entusiamo e o seu testemunho, também naqueles anos, não passaram despercebidos aos olhos de muitos jovens que o encontraram na estrada e com os quais, então, mantém uma linha direta.

"Da robur fer auxilium" (dá-nos força, traga ajuda) é algo que devemos nos esforçar em viver sempre, em todo lugar. Eu sempre tive o dom de encontrar tantas pessoas à margem da sociedade, mesmo na Itália, prisioneiros, dependentes de drogas, os últimos, os marginalizados. Os necessitados não se encontram somente no Oriente Médio ou na Etiópia, há muitos nas estações de trem e pelas ruas da cidade. Os jovens veem essas coisas e nós temos o dever de tentar ser como as sementes lançadas na terra e não reduzir a nossa passagem a simples flocos de lã penduradas nas silvas.

Voltemos à sua última e atual missão, aquela em terras etíopes.

É o país mais pobre do mundo, e os salesianos estão presentes ali há quase duas décadas. No começo, eu admito que foi difícil. Em Adwa, no ano de 1993, faltava tudo, não havia luz e nem mesmo água para banhar-se, a temperatura era alta, havia apenas uma cerca, pedras e milhares de crianças e jovens na mais profunda pobreza. Então, com a ajuda que nos chegava da Itália, começamos a construir poços para tirar água do solo árido; a vila Dom Bosco nasceu depois de termos aplainado uma colina com a força dos braços e picaretas; construímos a sede, o Centro Juvenil, a escola técnica, os laboratórios, os escritórios e a biblioteca.

Em Gambella, no sudoeste da Etiópia, fronteira com o Sudão, no ano de 2000, quando chegamos, tínhamos diante de nós a savana e a selva. O clima tórrido, a malária e constantes confrontos entre os diferentes grupos étnicos provocavam mortes praticamente todos os dias. Depois de 10 anos, temos uma bela igreja, o oratório, o centro juvenil, uma escola profissional de construção, de carpintaria e mecânica, pois não devemos apenas dar o pão de cada dia, mas preparar os jovens para obtê-lo.

O que significa a África para a Igreja?

A África é o Oratório, é a juventude, é a vida! Como nos dizia o Papa Bento XVI em sua encíclica, a África é "Presente" e dará vida aos outros continentes. O Papa considera este continente o "sal" da Terra e a "luz" do mundo. É assim que dizemos a toda juventude do continente africano "Estote parati", estejam prontos!

Porque esse desejo?

Não devemos esquecer que aquele que carregou a cruz de Jesus é Simão de Cirene (Líbia), um africano. É emblemático o fato de que o "poder", os soldados romanos, tenham obrigado um africano a carregar a cruz... A África, o maior dos continentes, colonizado... explorado... esquecido. Os africanos vendidos como escravos e transportados para outros continentes (as músicas spirituals nos lembram desta epopéia). Sim, é com o coração que dizemos Estote parati e boa caminhada para a África: é o continente mais jovem, por média de idade, é o futuro da humanidade!

Quais projetos está levando adiante nesse período na missão?

Os projetos destinados às famílias e crianças, para a multidão de crianças que migram aos nossos oratórios. Precisamos de ajuda para as necesidades, que podem parecer mais simples para nós que temos tudo, como conseguir dar a todos os jovens que vêm aos domingos algum biscoito, e para projetos maiores e de grande alcance, como assegurar um futuro por meio  das nossas escolas, onde se aprendem ofícios e profissões. Para isso, precisamos de uma ajuda constante, ainda que pequena, mas constante, e agradeço a todas as pessoas que há anos não interromperam seu apoio à Missão.

Artigo originalmente publicado em Bollettino Salesiano – Itália, em junho de 2013. Tradução: Elaine Tozetto

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